24 de dez. de 2014

Solidão

O silêncio nas paradas, 
Nas paredes velhas fotos 
Desbotadas
Feito o sonho que a gente sonhou
O sono que a gente dormiu
A vida que escupiu e escarrou
E tudo mais que nem brotou, 
Feito
A poesia que do papel não saiu
E por isso cala.

18 de dez. de 2014

Achados e Perdidos

Trabalhava ali já há alguns anos, ao seu redor todo tipo de coisa inusitada cheirava a poeira e esquecimento. Ela também cheirava assim. Suas roupas comuns, seu rosto comum, seu cabelo comum, nada em especial chamava atenção nela, exceto por um eventual faiscar dos olhos castanhos, ninguém a acharia especial ou mesmo atraente. Entrou ali por concurso, mas não foi concorrido, porque ninguém trabalharia ali mesmo. Foi a primeira e única aprovada. Não tinha chefe, não tinha colega, estava sozinha ali.
No seu primeiro dia um bilhete com coordenadas colado a parede lhe indicaram como cuidar. Bastava, basicamente, sentar e esperar. Sempre aparecia alguém, ou coisas novas na bancada da sala velha. Mas não entendam mal, era uma sala ampla, cabia muita coisa ali, as paredes, agora amareladas, deviam ter sido belas paredes brancas um dia. As prateleiras que tomavam toda a sala continham todo tipo de coisa numerada, devidamente etiquetada, ensacada e perdida.
Tinha um palhaço de porcelana na quinta prateleira à esquerda de um leão, tinha lá no alto um anel presente do pai de uma debutante, vários sentimentos, nem sempre bons se debatiam dentro de globos sangrentos e algumas pessoas inteiras até se amontoavam no fundo da sala. Bom, precisava ser uma sala ampla. Na porta da sala tinha uma placa modesta de madeira entalhada com letras douradas: Achados e Perdidos.
Ela não tinha nome, não precisava de um nome, era a moça dos achados e perdidos, pensava, enquanto organizava um par de falsos amigos junto das outras pessoas, que lhe bastava ser chamada assim, achava até (oh, silly girl) poético. Todo final de ano chegava um carregamento novo de coisas nem sempre velhas. Nesse carregamento, em especial, todas as coisas vieram sangrando. Fazia muito tempo que a moça dos achados e perdidos não recebia uma remessa tão sangrenta. E mesmo ela que não era afeita as lágrimas, chorou.
A moça dos achados e perdidos não conseguiu um bom lugar para as perdas e rezou pela primeira vez que alguém fosse ali fazer uma visita e achasse, quase sem querer algo que o pertencesse. Sabia, entretanto, que aquela sala não funcionava assim, e também que não estava aberta à visitação. Na verdade, a sala no topo do prédio mais alto do mundo era um sepulcro, não um museu. Por isso ninguém ia ali e as perguntas repetidas pelas pessoas amontoadas ao fundo nunca eram respondidas. Por isso, por que quase nunca há encontros, só perdas, é que a última remessa sangrava.
Sangrava por que cada perda drenava o sangue de quem perdia, sangrava letras e se você olhasse de perto: poesia.

15 de out. de 2014

Eu não vou mais lhe pedir que fique

Os novos ares me envolvem e eu sinto medo, mas continuo seguindo, eu pus os meus pés no riacho, e acho que não os posso tirar. Eu não vou mais lhe pedir que fique, eu não vou mais pedir para ninguém, nunca mais "Não solta da minha mão", as vezes é da vida o "Vai", também. Eu estou satisfeita depois de tudo, eu sei que eu não fui a primeira a soltar a corda, embora tenha experienciado situações limites que quase eliciaram isso. Vai, vai mesmo. Agora eu posso ver, eu sei, vai ser melhor assim, melhor pra você, melhor pra mim. Acho que do jeito que a gente ia, e a gente ia mal, eu ia te perder de qualquer jeito. Espero que entenda, um dia. A minha decisão múltipla pelos silêncios foi por que tem coisa que não deve ser dita, acho que se eu te dissesse tudo o que eu penso e sinto você não poderia aguentar. E acho também que o que eu sinto não é sua culpa, então é melhor mesmo fazer silêncio. Eu te pedi algumas vezes para ficar, e tentei enfeitar seus sonhos, colocar poesia nos seus dias e tolerar seus vícios, suas manias, suas faltas. Não por que eu preciso de você, mas por que eu gosto do seu jeito, eu tenho uma queda pelas histórias tristes, mas acho que essa ficou triste demais. Nunca pensei que eu fosse sentir ódio de você, lembra? Eu não devia ter te dito isso também, mas era como eu me sentia naquele dia, acho que era por que nos meus sonhos de menina você ainda era Good day, Sunshine. E é muito difícil perder alguém que a gente ama. Principalmente quando a gente ama alguém de maneira tão despretensiosa, eu te amei. Acho que eu ainda te amo, por isso eu preciso te dizer: é melhor que vá. Eu apelei para tudo, até pro seu buda, pra sua mística. Não adiantava, não dava mais, tinha esse nó na garganta que não saia, não importa o quanto eu me esforçasse. Você sabe que eu me esforcei. E eu nunca disse que você me decepcionou, embora eu tenha me decepcionado comigo mesma quando percebi que você já não era a mesma. Acho que eu não posso desistir, só de pensar em desistir eu me envergonho, sabia? E eu tive medo um medo obsceno de morrer, mas nenhuma possibilidade de morte pode me impedir de fazer tudo que eu tenho pra fazer. Somos tão diferentes nisso, né? Eu sempre tenho muitas coisas pra fazer e isso quase me enlouquece, eu nem sei bem o que fazer, por onde começar, mas eu tenho. Você não, mas quando você faz - e faz! - é sempre um primor. Você não sabe, mas você é um primor. Acho que eu te amo como a gente, especialmente nós que somos artistas, amamos certas obras inacabadas, certos brancos no fundo da tela, mas eu não posso mais, sabe?  É melhor que vá, mesmo. E eu não quero estar aqui para te ver ir, por que eu sou mesmo muito covarde e por que pensar nisso me mata, mas eu sei que é melhor assim. Melhor pra você, melhor pra mim. Mas olha, quando a saudade bater, apanha e vem, volta, eu te cuido, faço aquele chá de maçã, sigo sua dieta, sua seta, sua sina. Por que você é linda, sabia ? A mais linda que eu já vi, mesmo e ainda que tenha que ir. Desculpa ficar melancólica, eu sei que você odeia me ver assim, embora seja tão normal, quando tudo vai mal. Não vamos mais combinar o batom, mas fica o tom, a cor. Os segredos que eu sei de cor, os pensamentos que li e tudo aquilo que eu não sou e que você não é. Vai logo, poxa, sem suspense, eu odeio assim, você me conhece. Vai ser melhor assim, eu juro que vai, lembra quando eu jurei que você ia ser feliz, parece que eu falhei, mas não foi por que eu quis. Eu tentei, eu juro que tentei te proteger, mas o mundo é hostil, e eu não posso mais. Eu não posso mais lidar com tudo, eu vejo, agora eu vejo, que eu também sou fraca. Se você tivesse ali, justo ali naquele lugar que sempre foi seu, "my spot", você juraria que não e eu riria e a gente passaria horas falando de coisas semifusas e a fumaça quase me sufocaria. Eu queria, eu juro que eu queria, mas eu não posso, sinto muito. Diga a mãe que você vai chegar, talvez antes, talvez sem mim, mas você vai. Porque o que você quer, você tem. Vai ser melhor assim, melhor, eu juro, vou tentar acertar dessa vez, melhor pra você, melhor pra mim. Tem espaço de sobra na casa e no coração, mas eu não vou te pedir que fique. Voa, take these broken wings and learn to fly. Fly.

2 de out. de 2014

Baculejo

A morte espreita na quebrada
Vem marchando ensaiada
Sob a pisa dos gambé.
Vem de coturno, maltratada
Mal paga, esfarrapada, 
Muito dente, pouco pé, 

Feito cachorro raivoso. 
metido num balé doloso
Dança com os moleques pretos
A valsa morte de todos os guetos
E não há grito de dor algum
Ou fuga
Tudo é lugar comum
O cotidiano refuga 
A democracia deliberada

Olha aí o meu guri
Mais um guri morto na vala
Mais um guri de que não se fala
A quem não se anuncia
Um guri cuja a sentença vida
Está nas mãos de quem policia. 

A morte espreita na quebrada, chega de viatura 
Vem calada. 
A morte espreita na quebrada 
E depois dela o nada. 
.

16 de set. de 2014

Malemolência

Como ninguém segura o vento, eu te disse, como rotular algo esgota o significado, gostaria de ter dito. Mais Gilda que nunca, pontuaram, perceberam. Poderia dançar horas com você, fazia sentido. Não precisava de música, ainda estava de preto, mas luto nenhum, você ainda podia ver através de mim. Se houvesse paralelos chamaria "Destino" tal encontro. Você me tocou. Você me mudou. E despiu, com seus olhinhos infantis, como os olhos de um bandido, quem lhe deixou me olhar assim ? Tive medo de você, confesso, por quê você me deixava, deixava?, desconfortável, e tinha vontade de desconforto, de mudança, de você. Mas ainda assim era fácil, sem dor nenhuma, feito reggae em terra distante, feito um dia cinza e como veio fácil, fácil também se foi. Quem essa Gilda pensa que é, me falando em obtusos? Quem é essa Gilda que me olha pelas tangentes, que não me olha, que me evita os olhos, quem? Outras pessoas, assistindo àquela cena se questionaram se era possível que duas pessoas estivessem de tal forma ignorando ritmos, públicos, olhares e causando tal devastador incômodo, essas duas pessoas, nós, se perguntaram como poderia ser tão absolutamente coerente. O amor há de renascer das cinzas, das lembranças, de nós. Vamos celebrar as cinzas com amor, before you go.

26 de ago. de 2014

Onde a vida é de sonhar: Li ber da de...

Você que me enfeita os sonhos, 
Mal toco seus espaços, 
Não sei, saber não é do meu feitio,
[ E talvez não seja causo de saber-te] 
Sei que lhe chamarei Liberdade.
Poderia lhe chamar Desejo, 
Sei que viria até mim, 
Embora pouco saiba da sua órbita, 
Sei que te quero Liberdade,
E querer assim é maior que o Desejo. 

21 de ago. de 2014

Aos amigos e aos caminhos nem sempre dourados,

Olhando para as luzes apagadas na vizinhança, sinto inveja dos silêncios e saudades dos amigos. Sinto inveja de quem não precisa dividir a inquietação com os amigos e as taças de vinho, e os copos e as rodas e as doses. Sinto inveja de quem é silencioso por fora, e de quem ainda tem fé. Meu modus operandi tem sido a raiva, a raiva da dor, a raiva da injustiça, a raiva da raiva. Não quero sentir raiva, mas não me sei ser branda. Tenho arranjado pessoas boas, se volto pra casa sozinha é por que escolho assim. Prefiro esses, os amigos tortos, que me chamam pelo nome ou não, que me precisam e que me prescindem, prefiro o som dos seus sorrisos à mortífera solidão do silêncio de tudo que ficou por dizer e por fazer e por viver e... E calo, pois não fumo. Não sei fumar, e calo, pois não sei chorar. E calo, dura, calos ferem, calar fere. Meus amigos quando me dão a mão me dão o mundo. Meus amigos são todos quebrados, eu também sou e reconheço-me neles, desamassa aqui, desamassa ali pra ficar bom, meus bonecos de lata de vulnerabilíssimo coração. Esse fulgor de vida, essa inquietação, esse desafio ao que se mostra, que isso não nos perca.

17 de ago. de 2014

Luz negra

Esse vento que grita, lá fora, se bem me soubesse falaria manso. Ah se esse vento que grita lá fora soubesse dos gritos em mim, de mim, para mim. Ele me sussurraria ao pé do ouvido. Eu voltei mais puro do céu na música, eu voltei mais duro do céu na vida. E esse medo? Tem fim ? A solidão não tem, e não adianta, não me tomem essa dor. A solidão impenetrável, indizível, feito poesia-quase-pronta, aqui dentro e o peito ora sol ora chuva ora coisa nenhuma tempo nenhum, sem danças. O álcool só me faz chorar, convidam-me a mudar o mundo, era só fazer pose e dançar, não era? E beber, e rir, e parecer agradável, feminina, atraente, sobretudo atraente. Mais nada, mais nada, mais fração nenhuma de lugar qualquer. Finja, finja, venda, diga, beba, fale, coma, deite, trepe, sofra, ligue, estude: Cresça. Não me toque, por favor, não me toque, eu tenho medo. E me toque, agora e me toque de novo, me provoque com igual verdade. É tudo tempo. É tudo quem. Não é. A solidão está aqui. Ela conversa comigo, me chama para dançar e eu não danço, por quê a minha aureola caiu e ninguém viu. Ninguém viu onde, e ninguém riu como pôde. A luz negra se esvaia entre as cortinas, ribalta nenhuma, também, eu não sei como é bom ser mulher, eu só sei ser. E ser também, assim também, é demais: também. Isso é rima, não é solução.

28 de mai. de 2014

Agô


  • Quando eu nasci anjo nenhum,
  • Me recebeu um Exu retinto, que dançava na chuva
  • Anunciara a bonança, era mulher de boceta e resto
  • Nanã lhe espiava a dança, chovia feito o choro
  • Da esfomeada criança, sabia-se filha de Iansã,
  • Que a arvorava a liderança e os ventos de mudança,
  • Bandeira nenhuma carregaria, sem a Padilha abre-caminhos de herança,
  • Certamente, saberiam, os louvores da tal criança.
  • Não iria casar, senão com a revolução,
  • Subvertia o matrimônio, o afeto dos díspares era sua aliança
  • A justiça o seu Estado e a Fé sua nação,
  • Não era feia, nem bonita, era toda senão,
  • Isso tampouco lhe importava, valia mais o coração,
  • Que é coisa vermelha e pulsa, feito uma exclamação
  • Que batucava feito samba, e no terreiro nunca lhe faltou chão,
  • Para amar mulher que luta há em Iansã mais comoção.
  • Mulher é, verbo de criação, eu sou.

23 de mai. de 2014

Asperidão

O que arde em mim e o que move em mim
São mais de mim 
Que o limite da sua fala traduz
O que move em mim e o que peca em mim
São mais de luz
Que anjo, prece ou cruz
O que peca em mim e o que goza em mim
São mais de fio
Que a fina faca afiada pela língua faz jus 
O que goza em mim e o que de mim em mim se faz
Nem limite, nem luz, nem fio, nem faca, nem cruz. 

10 de mai. de 2014

Mais Maria que Madalena

E aí me dá uma vontade louca de alisar o cabelo ir na missa crismar casar de branco ter dois filhos muito machos por favor e ainda uma casa financiada em mil vezes num condomínio de alto padrão carro do ano sedam prateado e trocar o celular férias na disneilândia renovar votos de frente pro mar deixar que alguém me defina escolha por mim e tudo isso dura o minuto inteiro e roxa roxa quase sem ar percebo que: é só preguiça de sonhar, levantar, alçar vôo, que ser de vanguarda também cansa e a gente é gente e viver assim é cômodo. 

O masoquista e o fugitivo

[Para ler ouvindo]

Estava escolhendo limão, para fazer uma torta, a música no fundo melodiosa dizia que a gente que escolhe sorrir, ri, era escárnio, não graça, e que a gente escolhe chorar. Onde já se viu, escolher riso ou pranto feito se escolhe...limão!Aquele cheiro de hortifrúti mamão manga laranja lima limão maçã me botavam enjoada como o diabo, mal sentia além da música e a voz meio chorosa da Vanessa da Mata, há certa hora do dia em que mal sinto as minhas extremidades, ando como alguém que fumou um baseado, eu? Fumei não! Nunquinha meu senhor! Como poderia saber? Então, parecia que flutuava entre as prateleiras coloridas, e aquelas vozes femininas e toda aquela paz, toda aquela naturalidade naquele varejeiro mil vezes no cartão batata alface feijão, já não havia música, nem vozes, nem mercado, era eu e eu e eu e eu. Ondas de mim invadiam tudo e derrubavam tudo e nada mais fazia sentido algum. Até que uma velha voz me3 chamou pelo nome e a velha cefaleia, o velho cansaço nas pernas, a dor de coluna,  Oi? Vamos sim. Para onde? Para o caixa, é claro. É claro. É claro.

Não é.

8 de mai. de 2014

Flor de Laís

Fito a Ela e 
Ali, L(a)is, bela, 
Me devolve um olhar.
Fita no cabelo dela, 
Faz o mundo 
Re-decorar. 
Cora quando sentinela,
Sente dela o perfumar, 
Linda flor, flor amarela, 
Lá está o meu olhar.
Posa de bossa e jazz
E rock e cor e luz
Se tudo Laís tivesse
Quando tudo ela quisesse
Talvez fosse menos Blues.

26 de mar. de 2014

Do Quereres

Sete ondas depois
Amor, Amor, Amor
Amor, Amor, Amor, 
Amor. Peço.
Sete anos depois: 
Amor, Amor, Amor, Amor,
Amor, Amor,
Amor! Pinto: 
Na minha boca o seu sorriso.

9 de mar. de 2014

Correspondências póstumas

Você me viu dançando na rua e achou lindo, depois nos vimos naquela festa que nunca acabou e por último naquele bar, você e a rádio nacional. Aquele bar era o mesmo bar que eu ia todos os sábados em busca de...você. E te encontrar foi sempre um estar-comigo e estar-sem-mim e me abandonar porque eu podia, porque você me seguraria e tudo virou você. Seus grandes olhos castanhos, da cor de todas as minhas tempestades posteriores, e as coisas que eu falava e as coisas que eu mentia e as coisas que eu calava e quando você ria, eu amava seu sorriso. Seu sorriso mudava meu dia, todo dia e me dava motivo para sorrir também porque era maravilhoso ver você sorrindo. Todos os dentes e aquela cicatriz e as covinhas quando largo, uma só quando cínica. Você me fazia brilhar, e eu brilhava porque seus olhos me refletiam. Você sempre foi a alma do negócio, todo mundo comentava o quanto eu fui virando alguém melhor, as pessoas se orgulhavam de mim e eu era amada quase como figura ilustre e você estava lá, sempre. Você esteve lá desde o início do tempo e não sairá de lá quando tudo acabar, como naquela música de Chico que costumava amar enquanto nos tocávamos, ou tocar enquanto nos amávamos. Você odiava as minhas músicas pretensiosas e a minha suposta erudição. Acho que todo mundo sabia, ou sabe e intui que você era meu ponto fraco. Quantas brigas eu não comprei ? Com Deus e o mundo. Mesmo. E nunca me arrependi. é difícil sem você, é verdade. Tem dias que eu penso em desistir e canso de me aprender e percebo que longe do seu olhar eu que era tão altiva dentro dos meus sapatos vermelhos, tão mais Gilda, pareço muito mais com a arrogante e pretensiosa Alanie, aprendo a ser e re-ser, como naquele trecho de Caio Fernando que amávamos: Remar. Re-amar. Amar. Ou quem era assim era Gilda, desde sempre? Me transfundo e de repente sou toda a coisa e coisa nenhuma. E também me gosto assim, me gosto nessa bagunça. "Eu preciso andar um caminho só, vou buscar alguém que eu não sei quem sou" . Estou grávida de mim, e não quero me abortar, assim. Como é que chamam a gravidez? Estado interessante, acho. Estou assim, quero dá a luz a mim, mas sei que isso nunca seria possível sem você. Você me conhece melhor que ninguém, sempre quis ser mãe solteira, Freud explica, dizem... Eu ouço sobre o Amor e me calo.Eu não quero nem saber o que me espera, eu acelero e tomo um gole do que não conheço... E meu primeiro porre será um mistério imenso!   
Eu te escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você, guarde um sonho bom pra mim. 
Com Todo amor que houver nessa vida, 
With ARMS wide open, 
 ARMS. 

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !