30 de jul. de 2012

Vida bossa, idade nova.

Um canto doce, um cheiro de temporal. Eu guardo em mim, um Deus, um louco, um santo, um bem e um mal.


Das travessias idas, das novas vindas
Do que sobreviveu aos naufrágios
E do que revolucionou sufrágios,
Sou das paragens do frágil.
À revolução da beleza e da poesia,
um brinde, uma bossa clamava.
No raiar do dia de Nanã,
Fez-se em minhas primaveras, amanhã.
Um samba de grito entoava.
Meu coração pondera o peso
Do samba de chula do recôncavo
de pés descalços e descalça escravidão.
E também alegra-se ainda com a bossa
Branca elitizada, desta estação.

8 de jul. de 2012

Far far

- Eu ? Eu queria ser artista. Estar no palco, viver de aplausos. Queria ser uma dessas pessoas que pintam, ou dançam, ou cantam, ou criam. Mas nunca fui realmente boa em nada disso, sou melhor produzindo que atuando, criticando do que escrevendo. Aí você vai pondo o sonho de lado, e vai fazendo escolha, traçando novos caminhos, primeiro era a arte, agora é a moda, depois o direito. Tudo pelo ralo. A gente aprende a ir pondo os sonhos de lado, mais isso tem um preço, primeiro a gente perde o brilho, depois perde o gozo. O mundo foi ficando cinza quando mataram a arte em mim. As coisas, antes surpreendentes e dignas de sorrisos e aplausos, foram ficando tortas, murchando e morrendo. Aí me disseram que eu podia escrever. Que eu era capaz. E eu senti de novo surgir em mim cor, escrever para mim sempre foi um jeito de me anunciar. Uma lanterna, para um afogado. Escrever era um jeito de contar o mundo de mim para mim, e relembrar das cores. Eu tinha um ateliê, era um quartinho na minha antiga casa. Lá tinha livro, tinha fada, tinha tinta, tinha lápis, tinha papel e tinha os sonhos de quem um dia fui. Lá eu inventava até amigo, pintava, brincava, criava, lá eu era livre. Fui feliz naquele lugar, quando o visito nas minhas memórias sinto novamente o cheiro da comida no fogo e das tardes coloridas, tal como as paredes. Era para eu ser artista. Mas a pior tristeza da gente é crescer, porque crescer implica em aprender deixar de lado. Penso que por isso a gente aprende a chorar quando cresce e por isso também leva tanto tempo. A gente vai deixando a dor de lado até ela não caber mais na gente, até ter que sair. E mesmo quando ela sai, sai contida, lágrimas silenciosas no travesseiro a noite, quem nunca esteve nesse lugar ? Para me encontrar tive que reaprender a sentir dor, chorar quando doía, falar a verdade, não deixar de lado. Porque enquanto eu exercitava o que esperavam de mim eu era dura demais comigo e com os outros. A verdade é que eu ainda sinto dificuldade de dizer o que eu sinto, ainda preciso impostar a voz quando estou nervosa e ainda me assusto com arroubos de emoção. Gritos me deixam petrificada. E apesar de tudo isso sou atuante, assumo minhas causas e causos. Penso num mundo melhor, também, mas não me acho melhor por isso. Continuo seguindo. Sendo malabarista da vida, equilibrando, para me equilibrar. Acho que de tanto não acabei virando sim, artista.

6 de jul. de 2012

Éramos nós

Um nó na garganta é angústia, um nó no pescoço é gravata. Nó na garganta ninguém vê, só vêem a sua gravata , embora ambos sufoquem. Assim são as coisas minhas, me interessa o que você leva na garganta, os medos, as angústias, os dizeres, a gargalhada e me interessa ainda todo o resto, o de fora é só paisagem. Paisagem diz sem dizer. É livro inteiro, unha roída, cara bichada, é ressaca, medo, roupa mal passada por uma noite mal dormida. O que se leva fora diz de si, e o dentro comunica a si e o fora.
Há ainda mais. Não sou de extremos, não sou dessas pessoas intimidadas pelo que é medíocre, todavia. Vejo o mundo em inteiros! Nada de ou dentro ou fora. Não sei ser uma coisa ou outra, oito ou oitenta, sou tudo!Oito e oitenta, então se tenho braço de abraço e boca de sorriso também tenho mãos de tapas e boca de gritos. Basta que você esteja lá em tempo de tapa ou sorriso. Sabendo que todo tempo é esse, e todo esse único.Me parece inatingível a pretensão de ser ou uma coisa e outra, se posso ser a coisa toda, coisa e outra. Com óculos de coisa e outra vejo tudo que é o humano, e nada me é indiferente. Tudo e nada é o mesmo um.

                                                                                                                                                                        Um nó na gravata, é nada.                                                                                                                                      Um nó na garganta é tudo.

Dois nós e nenhum nó, só os "eus" feito nós.  

5 de jul. de 2012

Um clichê

Felicidade é esse sorriso dengoso,
Que se espalha na minha cama, 
E jura que me ama. 

Felicidade é essa voz melosa, 
Para além do fio e da prosa, 
Cravada na saudação calorosa.

Felicidade é o amanhã que nos coroa
O hoje que nos abençoa
E ontem que nos faz lembrar

Que embora haja toda felicidade
Há sempre mais por vir
E muito mais eu vou te Amar. 

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !