22 de mar. de 2024

Cada ser tem sonhos a sua maneira,

 No ronco da cidade uma janela assim acesa.

Acendem janelas no meu desejo,

Por isso não durmo bem, 

Sonho tem [embora o sinta só]
Corro para Morfeu pedindo...

Arrego, mas a dor que carrego

Me assombra nas pálpebras

O desejo explode na contramão

Ainda não tem forma 

Mas tem informe 

Uniforme

Imensidão

Parece um suplício acordar do início do não

O sonho é o vício da rotina, a dor seu guidão

O desejo não

O desejo planta flores no submundo da devassidão

O desejo acorda o dia 

que o sonho rouba em vão

Fico presa na contradição

De sonhar sonho só

De desejar pelo não


10 de mar. de 2024

Quando você me deixou, meu bem

 Me disse pra eu ser feliz e passar bem. 

Você sabia que pessoas que se amam fazem espontaneamente corações com os corpos quando se abraçam? Eu acredito que o coração como símbolo venha desse gesto, mas eu também acreditava que "Leãozinho" foi escrita para mim então acho que meu crivo de explicações é muito subjetivo. 

A dor é um argumento mais convincente que o Amor. Foi o que eu disse numa conversa despretensiosa, é o que eu acredito nos dias difíceis. Que não cabe no axioma do Amor a força de convencimento e mobilização que a dor cria. A dor com seus inquestionáveis traz uma valor de execução, perder por exemplo, dá conta de tudo que é intangível mas que se deseja tanger, pena que quando a dor te mobiliza ao transito não tem a força de uma crença que a sustente e diga à tudo que pertence a memória que vale mais o amor. A dor convence quem sente, o Amor convence aos pares. Mas quando decidimos perder, o abandono do sujeito amado não é maior do que o abandono de quem Ama, deixar de amar é se colocar a disposição da dor. 

Foi (no passado, não "É" e "É" no presente) assim que eu aprendi a saber quando era amor, inclusive, quando a ausência doía. Eu nunca tive amor ausente, ouvi muita Bossa Nova em tenra idade e aprendi que "mesmo amor que não compensa é  melhor que a solidão." De certo que o desejo de evitar a solidão é sobretudo o desejo de evitar a dor. Cazuza estava certo quando disse que morrer não dói? Sim e não, depende da perspectiva, o que morre não morre e só, morre também para alguém, para aquilo, para os propósitos e todas as próximas vezes que caem junto. 

Talvez a pergunta diante da morte seja "Como vou viver?" com algo morto dentro de mim ocupando todos os espaços e vivendo <ainda> que seja viver pelo não. 

Felizmente Passa

 Perder um amor é pior que a solidão. 

Eu perco o chão, eu não acho as palavras. Eu ando tão triste, eu ando pela sala, eu perco a hora, eu chego no fim, eu deixo a porta aberta...Eu não moro mais em mim. 

Eu estou ao meio. 

Onde será que você está agora ?

Desculpa, isso era para dizer:

Quando você me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer.

Já me fiz a guerra por não saber (me leva amor),

Não tinha mais como voltar àquele bar, as incursões na vida noturna e o glamour dos velhos tempos esvaneceram. Tinha agora uma vida fora da noite, um emprego honesto, seus silêncios e uma necessidade de sono que colocou os sapatos vermelhos de lado. Era um outro desdobramento de Adalgiza, de Gilda, de qualquer mulher. Mas ainda com algum apreço pelos líquidos amarelos para lubrificar os pactos sociais de silêncio da noite nas agruras do dia. Ainda tinha a lembrança do vermelho nos lábios, mas agora ouvia Beth Carvalho no domingo e preparava um lombo para a família, resignada nas transgressões, mas nunca no afeto. O tempero nos dedos enfeitava as unhas bem feitas, havia alguma vaidade, ainda. Mas os pés descalços, tocavam um chão sem sonhos. A realidade abaixo dos pés anuncia o calor dos dias, a necessidade de limpeza da casa, as cheganças que fazem festa na dor. 

 Vim de longe léguas cantando eu vim (me leva amor)/Vou, não faço tréguas sou mesmo assim

(Por onde for quero ser seu par)


Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !