20 de jan. de 2016

Retalhos,

Fui a uma loja de decoração, era grande e tinha móveis bonitos de madeira, e, apesar,  disso não parecia que as coisas que estavam a venda eram caras. 
Uma vendedora simpática veio até mim, me perguntou com um sorriso pelo que eu procurava. Podia responder uma infinidade de coisas: " Eu mesma", " Evidências da existência de Deus ", mas dei de ombros e respondi simplesmente: uma mesa. 
Ela assentiu e me guiou até uma grande mesa de vime, redonda, com cadeiras igualmente grandes estofadas com flores. 
Senti uma tontura leve e uma dor antiga apagou meu sorriso. E antes que pudesse me dar conta disse que não estava interessada. Me afastei e continuei - Tive uma mesa dessas. Perdi na separação.  
Ela sorriu, condoída e me levou para longe, me mostrou outras mesas. Pedi um cartão da loja, o orçamento da mesa que gostei, o nome dela e saí. 
Algumas dores velhas, concluí, não param de doer com o tempo. Mas com o tempo a gente se acostuma com a dor e segue em frente, para novas mesas. 

7 de jan. de 2016

Micrônica,

Estou com a coluna bem ereta, na minha melhor postura, pois estou carregando algo muitíssimo frágil e é preciso ter cuidado. 
O que carrego é fragilíssimo, tanto que antes de me entregar a mim embrulhado foi dezena de vezes, com um material resistente a rasura, queda, ou impacto que de qualquer sorte o quebrasse. 
O que carrego, em mim, comigo, me sorri quando eu sorrio e chora quando eu choro. 
O que carrego me faz ter passos mansos e cuidadosos, pensar nas consequências e agouros do desastre. 
O que carrego não foi caro, tampouco barato. Não foi preço qualquer, que possa ser tomado por descartável. 
O que carrego, agora mesmo, talvez não se possa ver nos meus olhos, mas vejo os meus olhos por isto, que carrego.
Não tenho medo de perder o que carrego, mas por deleite o pus bem colado rente a parede, não pendurei, colei. Com uma cola poderosíssima, numa superfície lisa. 
O que eu carrego em mim e comigo, poderia ser a minha Alma e tudo que cabe nela e nela se esconde, mas hoje: 
O que carrego é um Espelho.  

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !