29 de jan. de 2013

Vermelho

Gostar de ver você sorrir, beijar seus lábios enquanto você dorme, reparar no seu sinal, no seu sono, em qualquer coisa sua. Ter fé, mesmo quando dói. Conseguir te perdoar, sempre, te falar a verdade, sair da zona de conforto, te enfrentar, gritar com você, chorar com você, trepar com você. Sentir medo do escuro e te abraçar, sentir medo de te perder e te abraçar, sentir medo do medo e te abraçar. Pensar em outras possibilidades de felicidade e sentir sua falta, saber do conforto de amar você. Sentir vontade de te ligar nos momentos mais inoportunos, e ligar, mesmo que seus amigos riam disso, mesmo que eu me arrependa depois. Fazer dengo no telefone, pedir beijo no telefone, choramingar um ferimento no telefone, fazer amor por telefone, falar obscenidades no seu ouvido. Sentar no seu colo, ou na sua cara. Pedir com carinho, com tesão, com má vontade, ou nem pedir. Dar. Presentes, sorrisos, corpo, motivos, vantagem, doce. Cozinhar para você, mesmo que seja gelatina. Fazer careta, birra, graça. Gostar da sua cicatriz, aquela, no seu lábio superior. Tocar você, em você, com você. Ouvir você cantar para mim. Sentir a sua falta. Foda. Amar você.Imaginar você sorrindo, quando ler isso aqui. E gostar de ver você sorrir. 

26 de jan. de 2013

A outra

Eu ouvi o que disseram, quando disseram que eu merecia o coração partido que você me ofertava. Partido e repartido, me senti julgada, humilhada, exposta, nua. Me senti meio Ana Carolina, elevando a dor, também. A dor que eu metralhei em todas as direções, porque eu sou forte e sou por acaso, e precisava depositar o chumbo da mágoa.Quando eu te vi em outros braços, meu mundo se fez em pedaços e todas as teorias de conspiração fizeram sentido.O mundo estava sendo tomado pelos soviéticos e cairia uma bomba x, y, z ou começaria ali um apocalipse zumbi, porque eu me julgava importante demais, especial demais e única demais, mas eu não sou, e qualquer tragédia seria mais bonita do que descobrir que tudo que eu acredito também pode ser relativo, que as pessoas e os beijos são outros, como foram outros para você e que isso também não mudava nada. E eu preferiria perder meu cérebro para o zumbi, porque é mais fácil lidar com isso do que desconstruir o alto muro da mono-estrito-gamia pretensiosa que nos cerca. E pagar o alto preço dessa descoberta contra ortodoxa de que não somos únicos para ninguém e que também não nos pertencemos. E continuar vivendo um relacionamento, um amor, um caso. Não porque eu tenho que vivê-lo, não porque é assim que eu devo vivê-lo, mas porque é assim que eu tenho vivido, é assim que é para mim. E me faz bem vivê-lo dessa forma, onde não sou nem és. Somos.

21 de jan. de 2013

As Flores de plástico não morrem.

Tinha algo diferente nos olhos de Gilda. Talvez fosse a morte, angústia de quem vive. Talvez a solidão, fim  de quem ama. Não, não era. Era uma coisa doída, doída como o vinho tinto que corria nas suas veias, e tal como este, era de uma safra boa. E velha.
Gilda já não tinha mais 18 anos. Quantas pessoas podem se orgulhar de renascer em tão tenra idade? Gilda estava velha para si mesma, mas seus interesses pareciam cada vez mais juvenis. Andava falando em mudanças, em maturidade, em sopas, chás e dores lombares que ela não imaginaria nunca sentir, em angústias, tristezas e comoções. Gilda aprendera a chorar, e fez do choro sua rotina, as dores do mundo lhe açoitavam a cara marcada. Roubavam a beleza carmim dos seus lábios e imprimiam neles uma dor, uma mentira ou uma prece. Gilda estava velha. Mas nunca esteve tão jovem. Sentia uma leveza n'alma e não sentia falta da lama. Não precisava chafurdar na lama, se reconhecia lama, sem tocá-la. Lama, barro, areia, merda. De onde viemos e para onde vamos. Sentia o vinho, sangue, tinto, pulsando nas veias já não era mais de si, era do mundo. Sempre fôra o mundo, embora estivesse persistindo à sua margem, às margens de si. Embora houvesse se retirado, o mundo que lhe criou, a pátria, pútrida, que lhe pariu lhe chamara de volta. E de volta viveu. Em volta de, círculos e curvas que esvaziam os sentidos de ser.

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !