29 de out. de 2011

Primavera nos dentes

Seu sorriso me provoca,
O que nunca antes sucedeu,
                                 [ Só de lembrar do seu risinho,
                                    o mundo inteiro amanheceu.]
Posso até pedir que fique mais um poquinho,
Mas você é feito bichinho,
                                 [Arredio, que foge pé-ante-pé,
                                                           devagarzinho]

E eu fico com o amor estampado na cara 
Que poesia quando dá no mundo é rara,
E nem todo mundo pode ver.
Mas, quem ler esse poema bobinho,
E entender só um pouquinho
Como o amor cresce e floresce rapidinho,
Entenderá a verdade sobre a primavera,
Que se espalha e toma todos os dentes.

19 de out. de 2011

Sou sua mulher.

Se todo dia abro os olhos e pergunto pro tempo " Até quando? ", e ele me reponde " Acalma-te, criança " sei, e simplesmente sei, pelo Tempo que devo ser paciente, e então quando estou contigo e revelo toda minha paciência e falo pro Tempo " Acalma-te, criança ", e ele feito menino bobo sai esbaforido e me berra de volta " Até quando ? ". 
E então, mesmo que o tempo brinque de cirandas, ainda nos divertimos as custas dele, e ele não nos furta a ternura. Não nos falta compreensão, seu Tempo.
Se todo dia me pergunto se te amo e quanto, e sei pelo não não te amar e nada, que te amo infinitamente. Ou seja, se sei que te amo por contraste racional, por medo de perder todos os dias - quando eu estou longe de voce - são nos dias em que estou contigo que sei que te amo pelo não saber. Sei quase que intuitivamente, pelo deslizar e mãos, pelo beijo enternurado, pela paixão, pelo resgate dos sentimentos primórdios que nos trouxeram até aqui, e mesmo nos dias mais lascivos, pelo meu sexo que é todo coração e pulsa pela sua simples presença.
E então, mesmo que nesta ciranda do tempo nos falte abrigo, ainda poderemos recorrer a nós. E isso é muito mais do que o Tempo sonhou um dia em ter, e nem mesmo ele é capaz de furtar. 

15 de out. de 2011

Imperfeição

Não quisera ser tão misógino, mas por interesses maiores o destino apalpou-lhe os cabelos e interessou-se por ele. Dissertaras sobre o universo, sobre as coisas em que confiava e nas quais acreditava. Esqueceu-se apenas de ser compreensivo e piedoso com o mal. E é esta bondade que lhe cerca as narinas ? Cadê o olfato cheio de suficiência de palavras sonorizadas gramaticalmente corretas e semblantes sobrepostos a oscilações ora rígidas e ora benevolamente simples? 
 Sobre estes passos o julgar do pensamento alheio sobrecai sobre tu, sim. Que esqueceu-se da manhã ensolarada para condenar a noite fria. Não defendo o erro, protesto o julgamento. O seu vácuo não existe por minha culpa. Nem ao menos cheguei ao presponto de perfeição que tentara-lhe muitas vezes, E a credulidade com a qual sempre te vejo aproximar-se, cheio de armas preparadas e postas a fogo, me lembra muitas vezes daquele pressentimento bem apertado ao braço chamado Estrela de Davi. Esquecerei apenas de que a você tudo pertence, no momento em que julga-se tão sóbrio. 
         Obrigada pela indigestão, é frio o não entender.
Rafael Sady.

Sabe, senhora, foi sobre mim. Mas bem que poderia ter sido sobre você.


11 de out. de 2011

II

Bosque solidão, qualquer dia de Outubro.


Amie,


A primeira vez que gostei de você, porque de diversas formas já gostei de você muitas vezes antes de te amar, foi quando estávamos sentadas no meio do mundo inteiro, num momento, e eu te segredei toda dor. Você ouviu, atenciosa, crédula, ouviu e não disse nada sobre o que eu te falava, mas perguntou sobre a guerra. Você quis saber de que lado eu estaria, quando a guerra estivesse.
Honestamente disse que estaria do meu próprio lado. Mas você sabia, assim como eu, que desde então eu já estava do seu lado, ao seu lado. Em parte porque sua ausência me angustiava, e por isso vivia te buscando, como confidente e amiga, numa tentativa de que os laços de confiança te prendessem a mim. 
A primeira vez que te odiei aconteceu mesmo antes de gostar de você, quiçá de conhecê-la. Foi quando, na frente de todos, você riu de mim.E eu te flagrei rindo, e te odiei, porque você - como muitos também riram - me fez sentir pequena e desprotegida, tal como realmente era. 
Você feriu minha casca, e então onde eu me esconderia ? 
Eu me escondi em você. 
Ainda me escondo, ainda sou pequena e desprotegida só. Mas contigo não. 
Contigo eu sou o que você vê, e você vê força, coragem, beleza, volúpia, você vê o que ninguém mais vê. E me segura nessa visão, me captura. Acho que por isso tenho tanta fé em você: ninguém nunca me deixou entrar, ninguém nunca me protegeu - inclusive de mim - ninguém nunca me saciou. 
Você me liberta e me rende.
Me liberta porque deixa que meu Bluebird* saia de mim e viva sua plenitude e liberdade. E me rende porque ele só passeia sob o seu olhar atento. 
Funciona para nós. 
Tem funcionado há um ano, um mês e cinco dias.
O amor certamente não é vermelho como dizem os anúncios do dia dos namorados. E nem é tranquilo e cristalino como em " Monte Castelo " o amor é roxo, talvez vinho. Porque é conturbado, paradoxal, bonito, hipnotizante, turbulento e desejoso, viciante, sensual - e novamente paradoxal - mas certamente não é cristalino, porque é humano. 
E não é perfeito. 
Ainda bem, esse lance de perfeição nunca foi para o meu bico.

                                                                    Amor extremado, entre outros sentimentos tão ou mais bonitos.

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !