19 de nov. de 2011

A parábola da menina feia

A menina não tinha nome, era " Ela " aos sussurros maldosos, " Ela" no escárnio dos sorrisos plásticos.
Ela era desgovernada, não bastasse o infortúnio da feiúra, não era aluna aplicada, não era sociável o suficiente para ser boba da corte, nem tinha um grande senso de humor. E embora demonstrasse grande domínio retórico, nunca era convidada para bate-papos informais, senão pelos outros que como Ela, eram os inapropriados para convívio. Eles eram também, a maior parte do tempo, seus amigos.
Ela passou pelo ensino fundamental, aos trancos e barrancos, no ensino médio continuou medíocre.
Desgovernada, inconstante, mas tinha talento diziam, para bajular aos outros, a fizeram de macaco de auditório. Ela, tomada pelo arroubo de ter encontrado seu lugar, foi lá, fez o que lhe pediram, e fez além. Mostrou seu potencial, disse-lhes de contos e histórias que não conheciam. E ainda que não esperassem, Ela, a menina feia, desgovernada, imoral e inconstante foi amada, e aplaudida, Alguém amou Ela, mesmo feia, e Alguém deu para Ela um coração em Sol. Então Alguém deu a mão para Ela, e Ela se viu capaz de voar.
E voou, um longo e cansativo vôo, desses que passarinhos de bico curto e asas breves não se arriscam voar. E achou um novo lugar para si. E se apossou desse lugar. Lá Ela não era Ela, lá era Eu e lá Alguém era Estrela, Luz, Nós. 
 Lá não existiam artifícios, mas existia a mim, de cima da pedra mais alta, do topo mais alto do mundo. Eu, que era feia e condenada pelo que nunca dependeu de mim, Eu que superei expectativas, até as minhas, Eu que sou o mundo de Nós.

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !