21 de ago. de 2014

Aos amigos e aos caminhos nem sempre dourados,

Olhando para as luzes apagadas na vizinhança, sinto inveja dos silêncios e saudades dos amigos. Sinto inveja de quem não precisa dividir a inquietação com os amigos e as taças de vinho, e os copos e as rodas e as doses. Sinto inveja de quem é silencioso por fora, e de quem ainda tem fé. Meu modus operandi tem sido a raiva, a raiva da dor, a raiva da injustiça, a raiva da raiva. Não quero sentir raiva, mas não me sei ser branda. Tenho arranjado pessoas boas, se volto pra casa sozinha é por que escolho assim. Prefiro esses, os amigos tortos, que me chamam pelo nome ou não, que me precisam e que me prescindem, prefiro o som dos seus sorrisos à mortífera solidão do silêncio de tudo que ficou por dizer e por fazer e por viver e... E calo, pois não fumo. Não sei fumar, e calo, pois não sei chorar. E calo, dura, calos ferem, calar fere. Meus amigos quando me dão a mão me dão o mundo. Meus amigos são todos quebrados, eu também sou e reconheço-me neles, desamassa aqui, desamassa ali pra ficar bom, meus bonecos de lata de vulnerabilíssimo coração. Esse fulgor de vida, essa inquietação, esse desafio ao que se mostra, que isso não nos perca.

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