12 de mai. de 2010

Ilíada .

O vento trazia consigo o cheiro de final de tarde numa cidadezinha de interior. Sentada num banco qualquer de uma dessas praças onde todos se encontram, perto de um chafariz, no meu colo repousava um semi-deus, vamos chamá-lo aqui de Hércules.
Podia ser para sempre.
Ele envolvia meu rosto com ambas as mãos e falava sem parar sobre coisas aleatórias, queria aproveitar cada vão momento. E sorria, sorria daquele jeito que só os semi-deuses são capazes de sorrir. Eu, que vim ao mundo só para cantar seus feitos, sorri de volta. Nunca serei capaz de te deixar . Fiz milhões de promessas, algumas das quais me arrependo profundamente, mas não me calei, falei tudo que me vinha a boca, queria desesperadamente que Hércules se calasse, cada palavra dele fundava um conjunto novo de sonhos que eu sabia ser cedo demais para que existissem. Por favor não faça isso comigo. Ele calou-me com um beijo ao passo que começou a cantar uma música conhecida nossa de outros tempos...

Você é algo assim, é tudo pra mim, é mais que eu sonhava... Você é mais do que sei, é mais que pensei, muito mais do que eu esperava... Eu vou morrer de saudades, não não vá embora...

E eu vi, rolarem pelo seu rosto muitas lágrimas disformes, e eu o achei tão bonito assentado ali no meu colo, tão frágil, tão humano que eu me curvei aos seus pés. Jurei amor eterno vinte vezes no silêncio da minha falta de experiência.
Mas no minuto seguinte, descobri que cada uma daquelas lágrimas havia sepultado uma parte de mim. Tarde demais.
Ele levantou, vitorioso, pegou suas asas de cera e foi buscar um lugar ao sol. Meu rosto iluminou-se com um sorriso de escárnio.

Você vai cair.

2 comentários:

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !