5 de mai. de 2015

Escrevo longas cartas para ninguém...

Olá, estranha

Sinto sua falta. Eu sei que você está aqui o tempo todo, sei que você emerge, sei dos seus retalhos. Mas eu sinto sua falta. Daquela menina despreocupada, sonhadora e esperançosa, que você costumava ser, e tão pretensiosa e franca que era capaz de reproduzir as maiores bobagens políticas. Sinto sua falta e sei que não sou só eu. Outros também sentem a sua falta. Falta do seu jeito de falar, calmo e pausado. Do seu olhar nos olhos. Quando você começou a falar de maneira tão insegura? Justo você que nunca gaguejava? Justo você que queria fazer, vejam só, Direito. Quando você adquiriu essas olheiras e esse olhar perdido ? E esse medo, quando? Ninguém teme por você, mas eu temo. E sinto saudades, quantas vezes sepultei seus gostos e codinomes, mas nunca tive medo da iminência da sua morte. Não me refiro aos ciclos, não falo em borboletas. Falo em mudanças tão profundas que ignoram a lagarta e o casulo. Acho que você deveria voltar para casa, ela fica mais limpa e organizada quando você está. O que está acontecendo com seu cabelo ? Quanto tempo tem que você não faz as unhas? Não pelo patrão (bos)estético do patriarcado que eu combato o tempo todo e sobre o qual não vou me alongar a falar, porque isso parece levar você para, ainda mais, longe, mas pelo cuidado de si, Você tem cuidado de si?  Pelos momentos de dedicação ao próprio corpo? Eu sei e mais ninguém sabe que você não está indo no médico, como você pretende cuidar de alguém assim? Quando você passou a insistir sem fé nenhuma? Cadê as velas? A responsabilidade com o Ori? Eu e Iansã sentimos sua falta. Onde você se meteu, menina? Que eu não te vejo mais? Tenho te procurado e não sei dizer em que espelho ficou perdida a minha face.

Amor, AR.

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