12 de ago. de 2013

Pelebra.

Um dia um menino me falou, durante a minha brincadeira preferida no jardim II, que meu pai matava gente porque ele era do exército, toda a emoção de uma garotinha de seis anos floresceu em mim nesse momento e eu gritei que ele era um mané e que meu pai era muito bom e nunca mataria uma pessoa. Sou enviada para um segundo momento, quando percebi com 13 anos que meu pai não sabia tudo. Fiquei decepcionada, me senti sozinha naquele dia, como me sentia quando andávamos no shopping e por um instante perdia a sua mão. Lembrei de quando um homem que foi um pai para o meu pai morreu e ele ficou ão triste que eu mal podia acreditar e fiquei triste por isso também. Lembrei de quando eu magoei o meu pai a primeira vez e de ver nos seus olhos uma tristeza inominável. Lembrei de quando meu pai chorou comigo, confessando a falta que sentia da sua mãe, e eu chorei com ele porque não consigo imaginar vida sem a minha. Lembrei de quando meu pai foi falar na minha formatura do terceiro ano e estava tão orgulhoso que atropelava as palavras. E lembrei de que na mesma noite ele ficou apavorado com a ideia de que eu poderia ser rechaçada pela minha identidade sexual, ali exposta, e sem saber o que fazer, brigou comigo por deixá-lo preocupado. Lembrei das nossas brigas, e dos nossos carinhos. De dormir abraçada com ele por ter medo do escuro, do tempo, da vida, dos monstros. Lembrei de uma menina que sabia que o que tinha quatro dentes e servia para levar comida para boca era o garfo e de um pai orgulhoso disso. Lembrei e lembro, todos os dias, de você pai. Das suas contradições, dos seus ensinamentos:  " sou tido e havido pela incoerência que me abriga " e " aprenda a gerenciar suas frustrações " e " ninguém é tão ruim que não tenha nada de bom para oferecer " e " Te amo mais do que você imagina e menos do que você merece, minha filha. "

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