19 de jun. de 2010

Remar.

-Não gosto mais de você, mamãe, eu vou fugir! - E saia pela porta levando só uma boneca, um pequeno coração rebentado de nãos sonoros da mãe e uma dose de dignidade ingênua .
-Vai, vai mesmo.
E eu fui.
Mas voltei.
Eu sempre volto, não sei exatamente porque isso acontece comigo, o fato é que eu não vou sem voltar, eu não sei fugir. Cachorro magro que sou, caio da mudança inúmeras vezes para me deparar com a absoluta verdade da fome- que é minha - dos meus donos.
E são tantos donos ! Pai, mãe, amigos, amores, amantes. E eu aqui me perguntando porque eu volto para eles o que tem de errado comigo que me faz querer esse carinho, esse amor, essa atenção que ou já não me pertence ( não é amiga ? não me amava ? não ), ou já tem novo lar ( não ia ser para sempre, você não prometeu que ia lutar ? Quem aqui é mais covarde ?), ou é um protecionismo exacerbado que me sufoca. E a lucidez da imperfeição faz-se clara, nítida e horrenda. Quero chorar, transformar em lágrima tudo que eu não sei dizer, mas eu não sei dizer nada, nem tenho nada a dizer. Eu estou errada, o barco afundou e eu não sei nadar.

Mas voltar sempre cansa,
voltar sempre,
cair de novo,
nova mudança.
Cansei dessa dança.





Para Laizza Pedroza .

Um comentário:

  1. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir.
    Mas a gente tem que afundar junto
    e descobrir que é possível nadar junto.
    Eu te ensino a nadar, juro! *-*

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Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !