aprenda a confiar em você. Baco
Doutor, é o seguinte: eu estou de saco cheio de tudo isso aqui. Pensei seriamente pela primeira vez em mudar de profissão, não pela profissão, pelo trabalho. A vida toda eu tive uma ideia muito clara do que eu queria, não clara o bastante para ter forma, mas queria coisas grandiosas, queria felicidade, liberdade, conhecer lugares e falar língua, queria passar o dia numa siririca mental de teorias, mas isso aqui a realidade "esse baixo astral" eu não queria não. É de Leminski, você conhece? Poeta das obviedades! Ou ele era interessantíssimo ou chatíssimo, um boy que pensa muito sobre a realidade pode ser perigosíssimo. Então, eu tentei de tudo, meditei, rezei, praguejei, levantei e fiz fiz fiz fiz fiz até mal me manter de pé e tenho dúvidas sobre a sanidade, em todos os momentos que estive feliz (e medicada, sempre medicada, para ser louca com moderação) não me fizeram melhor, nem pior, do que todas as outras vezes em que estive por aí, alheia ou com dor ou puta, porra esse ano eu fiquei puta pra caralho, triste ou sei lá...Todas as vezes via do jeito que eu podia e ouvia como eu podia, assim, bem de cima da minha história com as ideiass claras e tudo mais. Nunca consegui ouvir de dentro do normal, o que me faz pensar: o normal fala? O normal aparece? Ele existe? O senhor me prometeu que ele existe. O senhor inclusive é uma coisa muito engraçada de dizer, parece até que eu estou falando com Deus. Sim, eu acredito em Deus, muda só o nome e o sentido da coisa toda, não precisa de escarcéu tão grande. É que nesses dias eu tive uma premonição, você vai me achar maluca e aumentar a dose eu tenho certeza, mas eu sempre soube que "Deus" - sim, assim, entre aspas - existia, desde criança, mas naquele tempo eu tinha uma imagem meio distorcida da coisa toda e envolvia barbas e sacrifícios, sempre desconfiei da embalagem, nunca do conteúdo, sentia isso diferente e acreditava de uma fé inabalável. Sobre conteúdo é isso aí, eu acredito que há algo mais aqui, não aqui nesse consultório cafonérrimo, estou um pouco hiperbólica hoje, sim, não hipomaníaca porque afinal de contas se fosse isso eu deveria me sentir feliz e eu só me sinto... Eu. Pior até, me sinto até uma versão melhor de mim, o problema é que isso também dói, então me diz, meu querido, qual é o ponto disso aqui então? Com depressão dói, sem também dói. Dor diferente ainda é dor, era para ser mais feliz do lado de cá. Cansei de me relacionar com quem pensa que pode me roubar as palavras, isso não é perseguição, darling, é revolta.
11 de dez. de 2024
Construímos ilusões de sua desordem,
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Picolé de Chuchu ;
Fria e Indigesta !
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