21 de jan. de 2013

As Flores de plástico não morrem.

Tinha algo diferente nos olhos de Gilda. Talvez fosse a morte, angústia de quem vive. Talvez a solidão, fim  de quem ama. Não, não era. Era uma coisa doída, doída como o vinho tinto que corria nas suas veias, e tal como este, era de uma safra boa. E velha.
Gilda já não tinha mais 18 anos. Quantas pessoas podem se orgulhar de renascer em tão tenra idade? Gilda estava velha para si mesma, mas seus interesses pareciam cada vez mais juvenis. Andava falando em mudanças, em maturidade, em sopas, chás e dores lombares que ela não imaginaria nunca sentir, em angústias, tristezas e comoções. Gilda aprendera a chorar, e fez do choro sua rotina, as dores do mundo lhe açoitavam a cara marcada. Roubavam a beleza carmim dos seus lábios e imprimiam neles uma dor, uma mentira ou uma prece. Gilda estava velha. Mas nunca esteve tão jovem. Sentia uma leveza n'alma e não sentia falta da lama. Não precisava chafurdar na lama, se reconhecia lama, sem tocá-la. Lama, barro, areia, merda. De onde viemos e para onde vamos. Sentia o vinho, sangue, tinto, pulsando nas veias já não era mais de si, era do mundo. Sempre fôra o mundo, embora estivesse persistindo à sua margem, às margens de si. Embora houvesse se retirado, o mundo que lhe criou, a pátria, pútrida, que lhe pariu lhe chamara de volta. E de volta viveu. Em volta de, círculos e curvas que esvaziam os sentidos de ser.

Um comentário:

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !