23 de nov. de 2010

Estamos vivos e é tudo, é sobretudo a lei.

Sou mulher ocidental, quase-branca, quase-bonita, quase-magra, na flor da idade, na flor do tempo, na flor da efemeridade. Sou classe média, glamour decadente, boas escolas, boa comida, carro popular, cabelo esticado, visionária que sou almejo um carro assim que passar no vestibular, para viver minha vida medíocre sob os holofotes e os aplausos da sociedade.
Mas um belo dia acordei para questionar e perguntei um grande " que porra é essa ? " e sabe o que veio como resposta ? cri cri cri.
Minha personalidade, ou a ausência dela, bem como meu caráter, honra e afins se resumem a um pedacinho infeliz de pele na xoxota.
Não sou boa o bastante se não tiver um hímem que me marque.
Como são falsas e fáceis as portas do grande século XXI.
Sou livre, mas se não faço direito sou fracassada, se não faço medicina sou medíocre, se escolho filosofia sou maconheira, se faço arquitetura quero ser dona de casa e usar diploma como enfeite, se sou lésbica é falta de homem, se sou puta é falta de homem, ou é excesso de homem, ou alguém partiu meu coração, se sou solteira é porque eu sou frígida, se sou frígida é porque nenhum homem nunca... Err, não obrigada.
E os holofotes que te exaltam são os mesmo que te jogam no limbo na primeira escorregadela, se você cai aplaudem, se você levanta tanmbém. A verdade é que ninguém da platéia se importa realmente, só o artista que divide o palco contigo sabe como é fatal um caco fora de hora, uma marcação errada, um bife. Só quem divide a cena contigo sabe como um improviso pode salvar - ou não - o espetáculo inteiro.
Ai Zeca Baleiro me chama, assim baixinho, assim sorrindo, assim : Baby, i'm so alone... Vamos pra Babylon ?
Sou privilegiada, minha manhã tem duas estrelas. Uma que me enlouquece, que me põe em chamas, que me liberta e outra que me tranqüiliza, que me abre os braços e que me diz que tudo, tudo mesmo, tem solução.
E elas me ensinaram a mais sublime lição : Não importa se a gaiola é de ouro, é uma gaiola. E você está preso, sim, e cabe a você se adaptar e cantar, ou morrer no silêncio.
Se você se cala e morre, olha só: colocam outro pássaro-gente no seu lugar, mas se você encanta, eles acreditam em qualquer coisa que você cantar.
Eles acreditam em tudo que parece bonito, e te assistem todos os dias no mesmo horário prontos para acreditarem no que você cantar.
Se funciona ?
Muito.
Mas para que funcione, para que você chegue lá você tem que estar consciente da sua gaiola, consciente de si, com algum ideal, e sobretudo, você tem que saber cantar. Gritos não resolvem, silêncio tampouco. Tem que se cantar macio, bonito, no tom. O Guidom ? O gênero ? O ritmo ? É seu.
Aventure-se na liberdade de saber-se aprisionado.
E questione-se.
Não porque você existe, mas principalmente para que sua existência valha algo e permaneça por aqui mesmo quando você se for.


Para ler ouvindo : Só - Zeca Baleiro e Adriana Maciel ( porque é linda )  ou ainda Infinita Highway  - Engenheiros do Hawaii ( porque é revolucionária )

2 comentários:

  1. Dói, quando as grades entram em foco, mesmo. Mas sua voz é linda, cante alto, quem te ama está ouvindo e aplaudindo pq se impoorta, vc sabe.

    Kkkkk to meio livro de auto-ajuda hoje mesmo, liganon.

    TE AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO.

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  2. Você me traduz e me completa, Cabeção :)

    p.s: ZÉ É MEU, SE SAIA! ¬¬

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Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !