27 de jun. de 2025
Quem é o louco entre nós,
22 de jun. de 2025
Mesmo que seja eu,
27 de mai. de 2025
Time after time
Mãe, bom dia, lembra quando eu acordava no domingo e ia para sua cama para continuar dormindo com você até cansar de dormir e acordar antes de você e ficar te encarando pelo tempo exato que você ia descobrir que eu estava olhando e ia abrir os olhos e dizer “bom dia, mamãe” a senhora não tem nome para mim, é a minha mãe, minha cabaça ancestral, o sagrado corpo que me trouxe ao mundo. Eu nunca lidei bem com o sagrado, por isso posso ter sido inconveniente, mas você é a melhor do mundo para mim, isso mesmo, com tudo tudo tudo, mesmo quando me magoa, mesmo quando eu te magoo, não existe nada maior que isso no mundo. Eu não sou extraordinária para todo mundo, talvez ninguém seja. Sei que a senhora é, para mim a senhora é a evidência do extraordinário, nenhuma escolha depois poderia ser não fosse o milagre da senhora não só ter me parido como ter me adotado e ter me adotado todas as vezes que eu fui uma estrangeira, ninguém jamais vai poder ocupar o seu lugar, mãe.
A intimidade de saber que existi dentro de alguém antes mesmo de existir dentro de mim. Todas às possibilidades
Home is wherever I'm with you
Tinha aquela garota que eu conheci na escola, a história dela era de arrepiar. Ela era a mais ousada entre nós, foi ali a primeira vez que vi alguém que realmente tinha borboletas na cabeça, ali tão perto ela traçava um plano infalível, tinha rock da decada de oitenta e toda a deselegância pequeno burguesa de sonhos de cercas brancas, eu não a culpo, naquele momento todas nós éramos um pouco assim, mas ela se atrevia sempre a pensar fora da cerca, bem mais longe do que a gente, ela queria desbravar um mundo inteiro, ir à lugares, conhecer pessoas, se preparou a vida toda para falar. Iria viver fugindo, uma andarilha, dona de todos os rumos, sem depender de ninguém sozinha e em paz, mais sozinha do que em paz. Desde esse dia ela decidiu que ela andaria por aí com uma bolsa grande e nela haveria tudo que era necessário para fugir a qualquer instante, era e é a maior hedonista, boa vivân que eu jamais conheci, experimentava tudo, queria beber a vida todinha quando não a queria queimar inteira num fogo só. a maior sede do mundo junto com a maior necessidade do mundo de correr, as vezes é porque o caminho dela era o trânsito, por sua existência de passarinho um dia uma gaiola a encontrou, queria tanto fugir, que como o Nemo se perdeu na própria fuga, caminhos vão e vem e caminhos tortos escreveram no céu sob a fumaça a história de mundos que só nós duas conhecemos e desbravamos, coisas que compartilhamos e que nunca foram iguais, mas em algum momento por sorte ou destino se encontraram e aí alguma coisa de amiga ficou comigo quando o passarinho ficou além da fuga e às vezes, num dia bonito de sol ela vem me visitar e coloca uma margarida na minha fossa. Sei que já fui uma canção estridente de pássaro no galho daquela árvore que ficava perto da sua janela, mas são assim as mulheres pássaros - insuperáveis. Deitam até nas costas das baleias e dançam com elas o agradável balé do percurso que agora pode se estender aqui, não além mar, as vezes o caminho é in, não out mesmo. Tem gente que é casa mesmo.
26 de mai. de 2025
Eu quero ver o pordosol lindocomoele só,
Ai que ofício dispendioso esse de acreditar que sou poeta, poetisa ou pórtica qualquer da palavra. Agora mesmo tenho vontade de acreditar e medo de acreditar no poder (da palavra). Acreditando assim entre o medo e o movimento e medo aqui (até das pontuações que é coisa de fora e não de dentro) significa a paralisia, que entendo quê: os ansiosos são todos devoradores de palavras, falamos pelos cotovelos na esperança de que aquilo que diz de si, pelo menos diz. Nem tudo diz coisa alguma e o sentido que faz as vezes é só sol (tem uma poesia, aquela sol fazia só não fazia sentido) (meu eterno maravilhamento hiperbólico desse coração bobo bola balão que lembra os lugares da infância que tive e que não tive e insiste em buscar sentido, pertencimento e conexão genuínas para que a vida tenha graça e também eu que me autorizei a querer o que eu quero e não só o que me quer ou querem. Eu que sou e que poderia escolher por mim mesma depois de tanto tempo quero é me saber sentindo. Estou colocando agora mesmo esse hedonismo fetichista da experiência para jogo. Porque eu não aceito ser infeliz e para isso eu preciso viver uma vida que faça algum sentido e rompida a expectativa narcísica de que seja para o outro me atrevo a querer pra mim e acreditar possível. Tão possível que para fora e posso existir. Eu quero ter uma vida interessante e aprendo com a vida interessante a ter disciplina e cuidado e com o cuidado aprendo a ter corpo e aprendo de novo a querer. Desejar. Sabe como é? Afinal, só eu sei as esquinas por que passei, mas o Djavan que as inventou para mim, para eu poder passar na minha ficção hiperbólica de eu.
27 de abr. de 2025
Como eu não sei rezar só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Doutor, eu acho que eu descobri o meu super poder: é o seguinte, quando eu falo eu consigo encantar o mundo ao meu redor com a palavra, eu sei o senhor vai dizer de mania de perseguição ou delírio de referência, mas realmente não é isso, eu sei que quando falo, e nem sei se é exatamente porque falo, ou se é porque é o senhor que ouve, muitas vezes quando falo com o senhor me palavra fica aquebrantada. O senhor ouve, mas não entende as palavras como eu entendo, por exemplo eu digo de filosofia o senhor entende marketing, agora mesmo falando tanto sobre o tanto que eu penso a existência o senhor só é capaz de entender loucura, como ia dizendo doutor, eu observo as palavras há muito, muito, tempo e as observando e tentando capturar o máximo possível da essência de cada palavra com suas infinitas possibilidades eu me dei conta que talvez eu fosse alguém capaz de acender a essência da palavra e eu preciso desesperadamente acreditar que isso é magia, que isso é excelência que vivendo nesse lugar, que o senhor também vive, a ausência de espírito nas palavras mata a vida de quem consome os nossos luxuosos serviços, então, é por isso que eu uso a palavra como um vetor do que eu sinto na tentativa de traduzir quem eu sou e encantar a vida que eu vivo e criar alegria no que eu vejo e ainda que me sinta orgulhosa de portá-las, as palavras, e fazer um uso mágico delas, elas ainda não são capazes de esgotar o sentido do que sinto ou do que sou, mas me pus de maneira obstinada a disposição de descobrir qual é a combinação adequada de palavras que contaria pro mundo melhor aquilo que vejo e veja onde deu, estou aqui falando sozinha. Aprender a rezar em um yorubá que eu ainda não domino me deu algo que eu não encontrei em nenhum outro lugar a palavra que ainda não compreendo me conta coisas de mim que eu sinto e sinto mesmo e as palavras cantam em mim a possibilidade de acreditar que a palavra encantada não é um desvio, é mais como um chamado, algo capaz de se encontrar há dois continentes de palavras e produzir um efeito igual ou equivalente atravessando dezenas de culturas e atingir meu corpo como nada nunca sob a simples menção da palavra cabeça, puuuuuuff é isso doutor: esse é um texto que possivelmente fala, mas ele ainda é um texto justificado.
22 de abr. de 2025
Eu liguei pra dizer que quero você,
Eu poderia e posso dizer assim, como quem não quer nada, eu quero você e terminar a frase prenhe de sentidos assim. Bem aí, no momento em que a possibilidade grita e o desejo deixa no meio de tudo uma faísca que acende a consciência. Mas o que eu digo é matéria desbotada do depois e o que eu quero é a possibilidade luminosa do antes, como o som e a luz, realidade e desejo se desajustam felizes pela cidade e a cidade nem é a cidade, a cidade é o corpo todo e tudo corre feito água. E feito água o tempo escorre na sede que não sacia, na pressa do passo para dilatar a brevidade das horas, dos olhos não, a pupila entrega o que a palavra não alcança, mas o que eu sinto quando com é meu, o que é seu é seu. Por isso eu poderia dizer, mas não digo: faço. Poderia dizer, mas a palavra é uma promessa e o desejo é o que extravasa.
3 de mar. de 2025
A minha boca e a tua vão deixando pela rua,
“Palavras de silêncios que jamais se encontrarão”
Podíamos passar horas falando sobre absolutamente qualquer coisa, você costumava rir de verdade dos meus gostos estranhos por pedaços de músicas e todas as esquisitices de depois, lembra quando você ficou fissurada em Pablo e “na casa ao lado”?. A gente se conhecia tanto e há tanto tempo. Pensei que poderíamos ser várias e estaríamos ali. Acho que tudo aqui brilha diferente e encantado e que o rastro metafísico dessa cidade é mesmo diferente, você diria que passarinhos voam no nenhum, eu diria que ninguém segura o vento, mas o equilíbrio das coisas que se dissiparam é frágil e as vezes a dor de um amor perdido se espalha estranha no corpo, uma espécie diferem de dor que vem, quando você se depara com a perda, com o que não é. Queria te dizer que tudo bem, tudo em paz e que eu respeito a nossa história e que sua contribuição na minha vida é ainda tudo que costumava ser e todas essas coisas polidas que a gente diz quando encontra com alguém que já significou muito e agora não mais. Tenho que me lembrar nessa hora da alegria que você me ensinou. De como honrar as coisas bonitas do passado. Mas eu sou água e as vezes sentir é uma enxurrada, se eu tento segurar o pé d’água, tremo inteira. As vezes é diferente da terça feira gorda do Caio onde de um encontro feliz saímos confrontadas com tudo que os outros são, não acaba nos chutes, começa neles na medida do confronto com “tudo que a gente não é mais” e termina nas benfeitorias dos encontros, no corpo de gente sendo gente, no cheiro de gente e na purpurina que se espalha pelo ar, termina que a gente também pôde ser gente, nas movimentações do desejo pra fora, pra longe, pra nos sorrisos de depois, será que você sabe qual silêncio machucou mais depois de tanto tempo? Eu não sei exatamente em que ponto aquela dor me tocou, mas era um pouco de água e esperança também. Não foi você, fui eu. Aquela da Elza com a Liniker. Acho que você deve ter gostado, não sei, não te conheço mais. Acho que foi golpe baixo do destino, ou uma lembrança de que amor também vira motivo de raiva ou rima. Bobas e boas, aliás, as coisas que eu penso sobre você. Carrego o registro carinhoso do possível, senão eu sufoco e do impossível que se desenha na roda com novos passos, te desejo tudo de bonito, que haja muita vida pra nós. Axé axé axé.
P.S: tava tocando “Fora da Ordem” de Caetano, quais as chances ? “Fora da nova ordem mundial”
24 de jan. de 2025
Outra hora
Outra hora pensei
Que antes eu pensava que quanto mais perto
mais rápido
Agora eu sei que nem sempre
As vezes o sucesso tá perto de você,
mas é devagar
E a tristeza tá longe
mas é ligeira
A complexidade do simples
Uma folha que insiste no verão
Um aceno
simples
de mão