27 de jun. de 2025

Quem é o louco entre nós,

 Era uma vez uma menina muito silenciosa com muitas ideias na cabeça, as ideias tecendo um fio de palavras intermináveis e rodopiando tantas palavras e pessoas dentro que a angústia de pertencer era maior que a vontade de ficar. A solidão como um refúgio das palavras, uma alternativa deliberada, algo que a gente encontra nesses dias metendo a cara no celular. Qualquer joguinho, novela, poética aleatória, música. Não sei explicar como rapidamente tudo me invade, o mundo me invade e chega até mim como barulhos distintos, vozes, me pego gritando sem querer gritar, falando sem querer falar, tentando exorcizar pela boca meu espanto do tanto de mundo que cabe em mim. Cuspo mundo, na tentativa vã de colocar para fora palavras e silêncios que jamais se encontrarão. Mas é muito duro saber que essa menina não é a única. São pelo menos umas 10 em cada 10 lutando.  Parece demais? Cada uma com uma coisa. Uma margem uma sombra um assombro algo que me captura no outro e a sensação de estar sempre me despedaçando. Capturar o fantástico de cada coisa, a poesia secreta dos momentos, guardar o silêncio o mistério e o segredo ver o que de bonito a vida tem para dar. Transar bem todas ondas do céu a papai Oxalá pertence, licença Leminski as vezes é preciso acreditar mais que isso. 

22 de jun. de 2025

Mesmo que seja eu,

 Irmã, sua benção? Atende esse telefone! Tô ligando para te contar que aquele conselho da sua avó mexeu muito comigo, é, aquele "Se o maluco te chamar não vá, minha filha", tenho pensado bastante nisso e tenho certeza de que hoje se a maluca me chamar eu não vou, não adianta, não tem acordo, hoje não. Aquela frase pretensiosa "a vida presta" estampada na minha cara, tudo isso porque eu me visitei, você acredita? Eu nem desdobrei a alma para isso, foi tudo muito consciente, sabe o que meu pai diz né, "minha lucidez me deprime", então...Hoje foi diferente eu estava vendo tudo, cada camada de cada coisa, sabia o que era e o que não era e sabendo senti que conseguia transitar na escada rolante da encruzilhada do não lugar. Eu sabia, você sabe, mas eu me atrevi, eu queria beber cada gota de vida diante de mim, tudo que pulsava e ardia, estava lépida, líquida, lírica, com magia. Me pensei uma espécie de sereia, mesmo que fosse a Ursula com cabelo roxo e feitiço de revanche, mas não era fora da realidade sabe? Não era uma euforia, não era nem um impulso irrefreável, era o expresso da loucura, a nau dos loucos e eu ali no barco, que nem era um barco, era um inferninho, pensando que eu já perdi muito, muita gente perdeu mais do que eu, eu errei todos e cada um dos meus erros e eu não me arrependo de mim. E não peço desculpas, nem finjo que tudo aquilo que eu acreditei um dia foi o motivo da minha derrocada, não solidão hoje não, mas também sim solidão hoje sim, hoje cabe, eu não estou mais advertida, me soube banida e não me importei, logo eu que fantasiava caber, me vi assim descabida e foi o que me coube finalmente. Hoje a maior maluquice foi viver eu. Hoje irmã eu estive diante da maluca aquela outra que queria rodar na roda e tinha medo de ser quem eu sou e ela me chamou e eu não fui. E não ir, sem irremediável, sem dúvidas foi a vitória possível a primazia do eu. Eu sou, sou mesmo, mas eu não vou, porque a condição de ser eu não é a infelicidade a escassez e a dor, fiquei Layó com a grandeza de tudo que significa. É isso irmã, obrigada por tudo que a sua existência me deu, te amo mais do que você precisa e menos do que você merece e porque eu te amo me amo como sou amada também. Axé axé axé, que Yemanjá te abençoe grandemente! 

27 de mai. de 2025

Time after time

 Mãe, bom dia, lembra quando eu acordava no domingo e ia para sua cama para continuar dormindo com você até cansar de dormir e acordar antes de você e ficar te encarando pelo tempo exato que você ia descobrir que eu estava olhando e ia abrir os olhos e dizer “bom dia, mamãe” a senhora não tem nome para mim, é a minha mãe, minha cabaça ancestral, o sagrado corpo que me trouxe ao mundo. Eu nunca lidei bem com o sagrado, por isso posso ter sido inconveniente, mas você é a melhor do mundo para mim, isso mesmo, com tudo tudo tudo, mesmo quando me magoa, mesmo quando eu te magoo, não existe nada maior que isso no mundo. Eu não sou extraordinária para todo mundo, talvez ninguém seja. Sei que a senhora é, para mim a senhora é a evidência do extraordinário, nenhuma escolha depois poderia ser não fosse o milagre da senhora não só ter me parido como ter me adotado e ter me adotado todas as vezes que eu fui uma estrangeira, ninguém jamais vai poder ocupar o seu lugar, mãe. 

A intimidade de saber que existi dentro de alguém antes mesmo de existir dentro de mim.  Todas às possibilidades 

Home is wherever I'm with you

 Tinha aquela garota que eu conheci na escola, a história dela era de arrepiar. Ela era a mais ousada entre nós, foi ali a primeira vez que vi alguém que realmente tinha borboletas na cabeça, ali tão perto ela traçava um plano infalível, tinha rock da decada de oitenta e toda a deselegância pequeno burguesa de sonhos de cercas brancas, eu não a culpo, naquele momento todas nós éramos um pouco assim, mas ela se atrevia sempre a pensar fora da cerca, bem mais longe do que a gente, ela queria desbravar um mundo inteiro, ir à lugares, conhecer pessoas, se preparou a vida toda para falar. Iria viver fugindo, uma andarilha, dona de todos os rumos, sem depender de ninguém sozinha e em paz, mais sozinha do que em paz. Desde esse dia ela decidiu que ela andaria por aí com uma bolsa grande e nela haveria tudo que era necessário para fugir a qualquer instante, era e é a maior hedonista, boa vivân que eu jamais conheci, experimentava tudo, queria beber a vida todinha quando não a queria queimar inteira num fogo só. a maior sede do mundo junto com a maior necessidade do mundo de correr, as vezes é porque o caminho dela era o trânsito, por sua existência de passarinho um dia uma gaiola a encontrou, queria tanto fugir, que como o Nemo se perdeu na própria fuga, caminhos vão e vem e caminhos tortos escreveram no céu sob a fumaça a história de mundos que só nós duas conhecemos e desbravamos, coisas que compartilhamos e que nunca foram iguais, mas em algum momento por sorte ou destino se encontraram e aí alguma coisa de amiga ficou comigo quando o passarinho ficou além da fuga e às vezes, num dia bonito de sol ela vem me visitar e coloca uma margarida na minha fossa. Sei que já fui uma canção estridente de pássaro no galho daquela árvore que ficava perto da sua janela, mas são assim as mulheres pássaros - insuperáveis. Deitam até nas costas das baleias e dançam com elas o agradável balé do percurso que agora pode se estender aqui, não além mar, as vezes o caminho é in, não out mesmo. Tem gente que é casa mesmo. 

26 de mai. de 2025

Eu quero ver o pordosol lindocomoele só,

 Ai que ofício dispendioso esse de acreditar que sou poeta, poetisa ou pórtica qualquer da palavra. Agora mesmo tenho vontade de acreditar e medo de acreditar no poder (da palavra). Acreditando assim entre o medo e o movimento e medo aqui (até das pontuações que é coisa de fora e não de dentro) significa a paralisia, que entendo quê: os ansiosos são todos devoradores de palavras, falamos pelos cotovelos na esperança de que aquilo que diz de si, pelo menos diz. Nem tudo diz coisa alguma e o sentido que faz as vezes é só sol (tem uma poesia, aquela sol fazia só não fazia sentido) (meu eterno maravilhamento hiperbólico desse coração bobo bola balão que lembra os lugares da infância que tive e que não tive e insiste em buscar sentido, pertencimento e conexão genuínas para que a vida tenha graça e também eu que me autorizei a querer o que eu quero e não só o que me quer ou querem. Eu que sou e que poderia escolher por mim mesma depois de tanto tempo quero é me saber sentindo. Estou colocando agora mesmo esse hedonismo fetichista da experiência para jogo. Porque eu não aceito ser infeliz e para isso eu preciso viver uma vida que faça algum sentido e rompida a expectativa narcísica de que seja para o outro me atrevo a querer pra mim e acreditar possível. Tão possível que para fora e posso existir. Eu quero ter uma vida interessante e aprendo com a vida interessante a ter disciplina e cuidado e com o cuidado aprendo a ter corpo e aprendo de novo a querer. Desejar. Sabe como é? Afinal, só eu sei as esquinas por que passei, mas o Djavan que as inventou para mim, para eu poder passar na minha ficção hiperbólica de eu. 

27 de abr. de 2025

Como eu não sei rezar só queria mostrar

 Meu olhar, meu olhar, meu olhar

Doutor, eu acho que eu descobri o meu super poder: é o seguinte, quando eu falo eu consigo encantar o mundo ao meu redor com a palavra, eu sei o senhor vai dizer de mania de perseguição ou delírio de referência, mas realmente não é isso, eu sei que quando falo, e nem sei se é exatamente porque falo, ou se é porque é o senhor que ouve, muitas vezes quando falo com o senhor me palavra fica aquebrantada. O senhor ouve, mas não entende as palavras como eu entendo, por exemplo eu digo de filosofia o senhor entende marketing, agora mesmo falando tanto sobre o tanto que eu penso a existência o senhor só é capaz de entender loucura, como ia dizendo doutor, eu observo as palavras há muito, muito, tempo e as observando e tentando capturar o máximo possível da essência de cada palavra com suas infinitas possibilidades eu me dei conta que talvez eu fosse alguém capaz de acender a essência da palavra e eu preciso desesperadamente acreditar que isso é magia, que isso é excelência que vivendo nesse lugar, que o senhor também vive, a ausência de espírito nas palavras mata a vida de quem consome os nossos luxuosos serviços, então, é por isso que eu uso a palavra como um vetor do que eu sinto na tentativa de traduzir quem eu sou e encantar a vida que eu vivo e criar alegria no que eu vejo e ainda que me sinta orgulhosa de portá-las, as palavras, e fazer um uso mágico delas, elas ainda não são capazes de esgotar o sentido do que sinto ou do que sou, mas me pus de maneira obstinada a disposição de descobrir qual é a combinação adequada de palavras que contaria pro mundo melhor aquilo que vejo e veja onde deu, estou aqui falando sozinha. Aprender a rezar em um yorubá que eu ainda não domino me deu algo que eu não encontrei em nenhum outro lugar a palavra que ainda não compreendo me conta coisas de mim que eu sinto e sinto mesmo e as palavras cantam em mim a possibilidade de acreditar que a palavra encantada não é um desvio, é mais como um chamado, algo capaz de se encontrar há dois continentes de palavras e produzir um efeito igual ou equivalente atravessando dezenas de culturas e atingir meu corpo como nada nunca sob a simples menção da palavra cabeça, puuuuuuff é isso doutor: esse é um texto que possivelmente fala, mas ele ainda é um texto justificado. 

22 de abr. de 2025

Eu liguei pra dizer que quero você,


Eu poderia e posso dizer assim, como quem não quer nada, eu quero você e terminar a frase prenhe de sentidos assim. Bem aí, no momento em que a possibilidade grita e o desejo deixa no meio de tudo uma faísca que acende a consciência. Mas o que eu digo é matéria desbotada do depois e o que eu quero é a possibilidade luminosa do antes, como o som e a luz, realidade e desejo se desajustam felizes pela cidade e a cidade nem é a cidade, a cidade é o corpo todo e tudo corre feito água. E feito água o tempo escorre na sede que não sacia, na pressa do passo para dilatar a brevidade das horas, dos olhos não, a pupila entrega o que a palavra não alcança, mas o que eu sinto quando com é meu, o que é seu é seu. Por isso eu poderia dizer, mas não digo: faço. Poderia dizer, mas a palavra é uma promessa e o desejo é o que extravasa. 

3 de mar. de 2025

A minha boca e a tua vão deixando pela rua,

 “Palavras de silêncios que jamais se encontrarão” 

Podíamos passar horas falando sobre absolutamente qualquer coisa, você costumava rir de verdade dos meus gostos estranhos por pedaços de músicas e todas as esquisitices de depois, lembra quando você ficou fissurada em Pablo e “na casa ao lado”?. A gente se conhecia tanto e há tanto tempo. Pensei que poderíamos ser várias e estaríamos ali. Acho que tudo aqui brilha diferente e encantado e que o rastro metafísico dessa cidade é mesmo diferente, você diria que passarinhos voam no nenhum, eu diria que ninguém segura o vento, mas o equilíbrio das coisas que se dissiparam é frágil e as vezes a dor de um amor perdido se espalha estranha no corpo, uma espécie diferem de dor que vem, quando você se depara com a perda, com o que não é. Queria te dizer que tudo bem, tudo em paz e que eu respeito a nossa história e que sua contribuição na minha vida é ainda tudo que costumava ser e todas essas coisas polidas que a gente diz quando encontra com alguém que já significou muito e agora não mais. Tenho que me lembrar nessa hora da alegria que você me ensinou. De como honrar as coisas bonitas do passado. Mas eu sou água e as vezes sentir é uma enxurrada, se eu tento segurar o pé d’água, tremo inteira. As vezes é diferente da terça feira gorda do Caio onde de um encontro feliz saímos confrontadas com tudo que os outros são, não acaba nos chutes, começa neles na medida do confronto com “tudo que a gente não é mais” e termina nas benfeitorias dos encontros, no corpo de gente sendo gente, no cheiro de gente e na purpurina que se espalha pelo ar, termina que a gente também pôde ser gente, nas movimentações do desejo pra fora, pra longe, pra nos sorrisos de depois, será que você sabe qual silêncio machucou mais depois de tanto tempo? Eu não sei exatamente em que ponto aquela dor me tocou, mas era um pouco de água e esperança também. Não foi você, fui eu. Aquela da Elza com a Liniker. Acho que você deve ter gostado, não sei, não te conheço mais. Acho que foi golpe baixo do destino, ou uma lembrança de que amor também vira motivo de raiva ou rima. Bobas e boas, aliás, as coisas que eu penso sobre você. Carrego o registro carinhoso do possível, senão eu sufoco e do impossível que se desenha na roda com novos passos, te desejo tudo de bonito, que haja muita vida pra nós. Axé axé axé. 


P.S: tava tocando “Fora da Ordem” de Caetano, quais as chances ? “Fora da nova ordem mundial”

24 de jan. de 2025

Outra hora

 Outra hora pensei

Que antes eu pensava que quanto mais perto 

mais rápido

Agora eu sei que nem sempre

As vezes o sucesso tá perto de você, 

mas é devagar

E a tristeza tá longe

mas é ligeira

A complexidade do simples

Uma folha que insiste no verão

Um aceno 

simples 

de mão


Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !