2 de ago. de 2024

Não dá pra ser covarde/O perdão não sabe ver as horas,

 Mesmo saindo cedo ele tá atrasado

Não sei se posso parar de fumar, o cigarro mantem minhas mãos e meu peito ocupados, enquanto eu fumo o tempo se arrasta lento, entre uma baforada e outra tenho uma sensação de parâmetro e controle. Não acho que fumar seja um hábito saudável, mas acho bonito ter a coragem de assumir a minha insalubridade. Essas coragens tem me habitado de muitas formas nesse tempo, se era antes Gilda, coitada, me sinto sendo Gilda, apenas. Os caminhos torpes, os silêncios vários, cada maço de cigarro esvaziado buscando um propósito, um poema, um nome que esgotasse a mim, tudo isso abandonado, estou à deriva de mim. Gosto de estar intencionalmente derivada, de mim, por mim, para mim. De todas as coisas caras que vesti, comi, bebi, comprei, essa é a que me ascende a condição de Eu, meu próprio singular. Busquei nas noites atrevidas, busquei nas bocas entreabertas, busquei nas paixões irrefreáveis e não pude ver como vi quando me olhei no espelho, nem era um espelho exatamente, mas um objeto refletor: eu, ali. Ali comigo todo tempo e mesmo nua, pobre, rubra, puta da vida, mesmo marginal, coisinha, ex-qualquer-coisa e tudo que já se soube sobre mim, eu continuava ali, me sorrindo torto e de volta, capaz de fumar um cigarro por vez. Capaz de reger meu caminho entre os tropeços e os pódios. Eu tive muitos pódios, fui eleita várias vezes por diferentes pessoas, me queriam ali, eu era o centro do mundo de pessoas que se refugiavam nas solidões eloquentes de si mesmas e depois cansavam, procuravam outra Gilda, outra moda, outros modos. E isso me afetava tanto, eu queria, eu quis sempre ser tudo para alguém que distraída não fui capaz de perceber que mesmo na iminência do que me mata, eu sou tudo para mim mesma. Estou aqui, mais uma vez apaixonada, dessa vez é tudo novo, eu prometo, estou apaixonada por alguém que eu sempre fui e nem sabia que era. 

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