Eu queria um analgésico suficientemente forte para não sentir tanto. De alguma forma me habituei com as intensidades e isso me tornou alguém que sente muito, no meu silêncio ecoam os versos de Leminski “Sinto muito, sentir é muito lento”. Estou aqui e estou de pé diante do caos que eu mesma construí para mim, falei em alforria a liberdade que pagamos a quem nos escraviza, as vezes à nós mesmas. Eu fui construindo um lugar para mim, uma espécie de castelo de cartas, usando como base os sonhos que tinha e as minhas costas. Acontece que eu já estava há tempo demais abaixada e você sabe o que acontece quando a gente se levanta abruptamente né ? As coisas caem. Caíram porque eu levantei, mas também caíram porque eu escolhi brincar de subjugar meu corpo, meus desejos e transformar tudo em cartas. Qualquer coisa como quanto maior a altura, maior o tombo, para me consolar penso que para cair é preciso experimentar alturas. Ninguém cai de lugar nenhum. Até para cair é importante se levantar, visto que quem se deita no lugar de objeto permanece imóvel. Meu pai costumava dizer que era melhor um pobre sofrendo do que um rico apaixonado, porque o rico apaixonado perde o crivo e mata e o pobre sofrendo faz poesia. Vamos fazer poesia. Algo como:
Eu assumo
Eu sou a maior responsável
Por tudo isso que está me machucando agora
Mas o fato de me saber responsável
Não anula a dor que me causa
Saber quantas vezes,
Quantos cifrões,
Quantas culpas,
Tantos anos
Eu não me escolhi.
Quem é mais sentimental que eu ? Eu disse nem assim se pôde evitar.
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