Doutor, sou eu de novo, lembra de mim? Parece importante que você lembre. Lembrar é uma coisa mesmo muito engraçada. Eu me lembro que eu te disse que quando eu ouvia música estava sendo música mesmo e você achou graça, porque para você música é sempre música, porque você ouve os louvores chulos e se identifica com isso, eu me sinto caber em lugares mais complexos que isso. Então, eu tenho sentido coisas novas. Não novas inaugurais, novas com uma memória indistinta de ter visto, o senhor já sentiu isso? Uma paz de espírito no caos ? Na mais ampla bagunça a sensação firme de vento na cara em um dia de sol no meio do mar? Aquela sensação que é sempre novavelha de nunca ter sentido e já ter sentido, porque afinal já ventou na minha cara em algum momento, mas também nunca senti o vento como tenho sentido agora. Agora não é sempre e não é nunca. Agora é agora. Então estou sentindo o agora completamente. Tenho sentido tanto o agora que agora eu sei de coisas de mim que antes ignorei de tal forma que para mim, antes, não existiam. Voltei a sentir o gosto da vida. Novovelho. Acho que o senhor não deve sentir, ou talvez sinta, mas não se permita acreditar que sente que é um jeito de se fingir que não existe, mesmo que constatar a inexistência só seja possível se de alguma forma tiver existindo. A imaginação cria as coisas, e posso viver assistindo, mas doutor eu acho que prefiro viver vivendo.
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