Mãe, bom dia, lembra quando eu acordava no domingo e ia para sua cama para continuar dormindo com você até cansar de dormir e acordar antes de você e ficar te encarando pelo tempo exato que você ia descobrir que eu estava olhando e ia abrir os olhos e dizer “bom dia, mamãe” a senhora não tem nome para mim, é a minha mãe, minha cabaça ancestral, o sagrado corpo que me trouxe ao mundo. Eu nunca lidei bem com o sagrado, por isso posso ter sido inconveniente, mas você é a melhor do mundo para mim, isso mesmo, com tudo tudo tudo, mesmo quando me magoa, mesmo quando eu te magoo, não existe nada maior que isso no mundo. Eu não sou extraordinária para todo mundo, talvez ninguém seja. Sei que a senhora é, para mim a senhora é a evidência do extraordinário, nenhuma escolha depois poderia ser não fosse o milagre da senhora não só ter me parido como ter me adotado e ter me adotado todas as vezes que eu fui uma estrangeira, ninguém jamais vai poder ocupar o seu lugar, mãe.
A intimidade de saber que existi dentro de alguém antes mesmo de existir dentro de mim. Todas às possibilidades