Para a água da vida.
Estou brincando no rio e sou criança. O medo não me assalta, somos apenas nós duas - o rio e eu. Me estico sobre seu leito dourado e me deixo acariciar, recebo o carinho que ela me oferta e somos amigas. Espalho água, a reviro entre meus dedos, experimentando sua temperatura, quase sempre fria, e somos amigas. O rio me conta suas histórias de água e eu lhe conto minhas histórias de volta, quando olho no olho d'água também me enxergo, me enxergando umedeço as minhas fontes, me sinto leve. O rio caminha devagar e sempre, agora já adulta, eu corro. Eu tenho medo do rio, mesmo que ele não seja especialmente perigoso, parece que a água guarda um segredo sobre mim que só poderei descobrir mergulhando, mas eu me recuso, não somos mais amigas, estou amarga. E então um dia, por descuido o rio atravessa meu caminho, mais dourado do que nunca, e eu me encanto com as cores que ele traz em seus braços, eu quero ser amiga do rio, como fui em criança, mas não sei como, sinto que perdi o jeito. O rio então canta para mim, no meu momento de maior agonia, o rio canta para mim e me diz que outra vida fresca, próspera e boa é possível. Eu mergulhei, mesmo com medo, de olhos abertos e corpo presente e me permiti ficar. Eu quis ficar, escolhi ficar, mergulhada no rio, de olhos abertos, encantada com os presentes que ela nem sabia que me havia dado, mas recebi e fiquei. Fiquei e hoje sinto como sentia em criança a alegria do mergulho e o carinho do rio me salvou da amargura. O rio viu em mim com seus olhos de água e vida o que eu já não via mais, alegria. E me batizou Layó, alegria. E o rio me escolheu pra ser dela e ser minha, para sermos juntas - eu e água.
11 de jun. de 2024
Eu e água,
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Picolé de Chuchu ;
Fria e Indigesta !
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