21 de out. de 2013

Sempre.

Não sorria, nem sempre por falta de motivos, mas por falta de dentes. Ouvia desde nova que preto se avalia pelos dentes, tinha 12 sobrinhos e ajudava a cunhada a cuidar deles. Em dias de chuva bolo e café preto, preto feito a sua pele e amargo como todo o resto. Não tinha desejo, nem amante, nem grandes aspirações, seu noivo também preto a largou no altar, a única vez na vida que vestiu branco, que sentiu-se branca, seu noivo lhe deixou a sós com o mundo e com a multidão, foi morte, sabe?   O policial também preto entrou na casa dele e o matou, porque ele devia a um branco. Disseram que ele era ladrão, mas não. Nunca tivera um filho, só os 12 da cunhada, e as doze lamentações e no meio desses doze uma pretinha terna, seu amor. A chamava de Sempre, essa sorria com gosto mesmo quando não devia, apanhava do pai, coitada, alcoólatra e ainda ria, riso solto e pra cada gargalhada mais um tapa, e Sempre ria, e corria para o colo dela que querendo rir para Sempre não podia e calava, minguava, por falta de dente.

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