Não o queria mais, não o tolerava, mas sua pele, suas células - também vermelhas, também vulpinas - o queriam, e não podia conter esse querer carmim que berrava-o. E todo o resto a queimava, e não importavam mais os maços de cigarro que queimava a fio, tentando dizer que não, não, não era ele. Era só a merda dos hormônios.
Os sapatos ditavam um ritmo cadenciado pelo assoalho de madeira, queria sumir com os pensamentos, por isso estava ali. Livrarias eram sempre a solução do que era indissolúvel, segurou um exemplar comentado de " O príncipe " entre os dedos, os nós se faziam esbranquiçados, apertava-o com mais força que o necessário.
- Dane-se Napoleão! - Exclamou mais alto do que planejava, atraindo para si olhares perturbados de mulheres de meia idade. Ela mesma era uma mulher de meia idade, dentro da sua juventude interrompida, infame e inescrupulosa. Viu-se refletida num espelho, de relance, e se achou muito bonita, mas gasta, gasta da vida, concluiu. Pegou Clarice, Laços de Família, decidiu-se por fim. Ignorando os olhares e acenos de reprovação, dirigiu-se ao caixa , onde pagou pelo livro sob os cuidados retóricos, e forçados, de uma vendedora muitíssimo preocupada com sua comissão.
Saiu, os saltos estalando atrás de si, esbarrou num jovem homem, de cabelos negros, sobrancelha espessa e sorriso enviesado, ele segurou-a, por um instante, pousando seus olhos cobiçosos no xadrez da existência carmim.
- Desculpa - Sentenciou por fim. Enquanto os olhos dele a fitavam demasiado...
- Não, não! Tudo bem, não foi nada. Qual é o seu nome ?
- Gilda.
Pelo menos nossa conversa serviu pra isso. Ando inspirando muito gente, até.
ResponderExcluirSó eu que não me inspiro.
Eu sou sua fã *_*
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