27 de abr. de 2025

Como eu não sei rezar só queria mostrar

 Meu olhar, meu olhar, meu olhar

Doutor, eu acho que eu descobri o meu super poder: é o seguinte, quando eu falo eu consigo encantar o mundo ao meu redor com a palavra, eu sei o senhor vai dizer de mania de perseguição ou delírio de referência, mas realmente não é isso, eu sei que quando falo, e nem sei se é exatamente porque falo, ou se é porque é o senhor que ouve, muitas vezes quando falo com o senhor me palavra fica aquebrantada. O senhor ouve, mas não entende as palavras como eu entendo, por exemplo eu digo de filosofia o senhor entende marketing, agora mesmo falando tanto sobre o tanto que eu penso a existência o senhor só é capaz de entender loucura, como ia dizendo doutor, eu observo as palavras há muito, muito, tempo e as observando e tentando capturar o máximo possível da essência de cada palavra com suas infinitas possibilidades eu me dei conta que talvez eu fosse alguém capaz de acender a essência da palavra e eu preciso desesperadamente acreditar que isso é magia, que isso é excelência que vivendo nesse lugar, que o senhor também vive, a ausência de espírito nas palavras mata a vida de quem consome os nossos luxuosos serviços, então, é por isso que eu uso a palavra como um vetor do que eu sinto na tentativa de traduzir quem eu sou e encantar a vida que eu vivo e criar alegria no que eu vejo e ainda que me sinta orgulhosa de portá-las, as palavras, e fazer um uso mágico delas, elas ainda não são capazes de esgotar o sentido do que sinto ou do que sou, mas me pus de maneira obstinada a disposição de descobrir qual é a combinação adequada de palavras que contaria pro mundo melhor aquilo que vejo e veja onde deu, estou aqui falando sozinha. Aprender a rezar em um yorubá que eu ainda não domino me deu algo que eu não encontrei em nenhum outro lugar a palavra que ainda não compreendo me conta coisas de mim que eu sinto e sinto mesmo e as palavras cantam em mim a possibilidade de acreditar que a palavra encantada não é um desvio, é mais como um chamado, algo capaz de se encontrar há dois continentes de palavras e produzir um efeito igual ou equivalente atravessando dezenas de culturas e atingir meu corpo como nada nunca sob a simples menção da palavra cabeça, puuuuuuff é isso doutor: esse é um texto que possivelmente fala, mas ele ainda é um texto justificado. 

22 de abr. de 2025

Eu liguei pra dizer que quero você,


Eu poderia e posso dizer assim, como quem não quer nada, eu quero você e terminar a frase prenhe de sentidos assim. Bem aí, no momento em que a possibilidade grita e o desejo deixa no meio de tudo uma faísca que acende a consciência. Mas o que eu digo é matéria desbotada do depois e o que eu quero é a possibilidade luminosa do antes, como o som e a luz, realidade e desejo se desajustam felizes pela cidade e a cidade nem é a cidade, a cidade é o corpo todo e tudo corre feito água. E feito água o tempo escorre na sede que não sacia, na pressa do passo para dilatar a brevidade das horas, dos olhos não, a pupila entrega o que a palavra não alcança, mas o que eu sinto quando com é meu, o que é seu é seu. Por isso eu poderia dizer, mas não digo: faço. Poderia dizer, mas a palavra é uma promessa e o desejo é o que extravasa. 

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !