14 de mai. de 2024

Mas se apesar de banal, chorar for inevitável

Eu vejo nos rostos que compõe o que eu entendo como família expressões que contam a minha própria história. Em algum momento eu não via as semelhanças, não via mais o balanço dos pés cheios de joanetes, a narrativa de uma classe trabalhadora cheia de desafios amorosos, não via o bom gosto das músicas como meus. A morte me mostrou o que é meu. A morte, parte inexorável da vida sempre tem uma generosidade na sua narrativa, ela ensina. A iminência de perder o conhecido, perder o desconhecido, perder os futuros e perder os presentes coloca em perspectiva o que desconhecemos. Todo início de mês, numa quarta feira por vários meses consecutivos fiz um feitiço pedindo que as dinâmicas do cuidado aviltado pela realidade, que as dinâmicas de família que desconhecem limites, que as dinâmicas da minha subjetividade e da minha cabeça ocidental fossem desarmadas de mim, todas as quartas recebi respostas inacreditáveis. A cegueira se afastou de mim e reaprendi a enxergar, não o modo como as coisas funcionam, o modo como eu mesma estava funcionando. Tirar a venda me ajudou a revelar um corpo vazio, eu estive vazia por tempo demais. A minha mãe de santo falou que aprender a fazer magia era primeiro fazer e depois ver, o resultado era o exercício da fé, fui fazer e fui vendo de novo. Não vi apenas coisas bonitas, eu vi muita dor, mas uma dor que eu mesma me causei escolhendo acreditar e nomear o inimigo como amigo, o desconhecido como conhecido e desamparando o que sei de mim para mim. Exu está aqui, brincando comigo, junto às mães maiores que ritualizaram na sua volta ancestral para minha vida a necessidade de não temer os voos, mesmo os inesperados, a mulher pássaro precisa voar. E as vezes voar no nenhum, de volta para si mesma, sem rotas, nas rugas de expressão que crivam a realidade.  

Picolé de Chuchu ;

Fria e Indigesta !